domingo, 1 de janeiro de 2012

AS ROSAS SUBLIMES

Da Série Entrevistas de O Norte Fluminense



Vera Maria Viana Borges nasceu no distrito de Rosal em 28 de junho de 1944, filha de Iracy e Admard André dos Santos, conhecido como Maroca da Prefeitura.

Possui uma irmã: Sílvia Márcia.

Com 6 anos de idade Vera ganhou um acordeon de sua mãe, uma pessoa apaixonada por música. Mulher de visão, dona Iracy contratou o professor de música Sebastião Ferreira e Vera aprendeu a tocar o instrumento, assim como o harmônio que havia na Igreja. O professor Sebastião era um negro paulistano que ao conhecer Rosal encantou-se com a região, com ares de montanha, resolvendo fixar domicílio no distrito.



Sempre que vinha a Bom Jesus Dona Iracy fazia questão de levar para Vera e Sílvia a revista Tico-Tico, a primeira a publicar história em quadrinhos no Brasil.

Esse clima de cultura amplamente estimulado por sua mãe foi o grande responsável pelo desenvolvimento dos dons artísticos de suas filhas.

Vera se recorda que,certa vez, dona Iracy chegou a contratar um veículo Ford para levá-la (sua mãe) e uma amiga até Santo Eduardo (RJ), onde embarcaram em um trem para o Rio de Janeiro. Lá, foram para a famosa loja Sears, de onde trouxeram várias quinquilharias, livros e brinquedos para as filhas.

Vera passou a escrever desde os 8 anos de idade, chegando a fazer os versos que foram impressos por ocasião de sua Primeira Comunhão. "Sempre procurei registrar todos os meus sentimentos em prosa e em verso. Vivo literatura desde que nasci. Isso faz parte da minha vida", diz com emoção.

Vera recorda-se ainda que para fazer o curso de Admissão tinha de vir a Bom Jesus e ficar hospedada no Hotel Central, que era de propriedade do rosalense Delcídio. Contudo, nestas ocasiões, ela chorava constantemente por ficar distante da família. Foi o médico dr. Cabral quem alertou dona Iracy para o fato, o que fez com que ela se decidisse a mudar para Bom Jesus, quando Vera possuía 10 anos de idade. "Até hoje sinto o cheiro da poeira da estrada e o barulho do caminhão nos trazendo para Bom Jesus", exclama Vera.

Vera se lembra, ainda, da lição de partilha que recebeu durante o tempo de sua infância. "Quando se matava um porco, por exemplo, as crianças iam repartir pedaços de carne com outras pessoas".

Com 12 anos de idade, ao estudar o 2o. ano Ginasial no Colégio Zélia Gisner, conheceu seu marido, José Roberto Borges, filho de Leonor e Bolívar Teixeira Borges, passando a namorar com ele. Um ano depois, tanto sua irmã Sílvia como sua mãe passaram a estudar na mesma turma do referido Colégio.

Sua mãe se formou e foi, posteriormente, trabalhar na Prefeitura de Bom Jesus do Itabapoana.

Ainda com 12 anos de idade, expôs 3 telas durante a II Exposição Agropecuária e Industrial, revelando também seu dom artístico nesta área. "Eu e minha irmã aprendemos todas as virtudes de nossa mãe. Só não aprendi a bordar", diz Vera. Sílvia, por sua vez, "tornou-se artista plástica e pinta coisas maravilhosas".

Vera recorda-se da época áurea de Rosal, em que o distrito possuía um Banco e um Tiro de Guerra, o de número 117. Lembra, ainda, da trilha de boi que deu origem à estrada de Rosal. "Foi Franco Amaral o engenheiro que construiu a Usina que tem o seu nome e quem idealizou a estrada de Rosal. Isso está em meu livro 'Brumas do Passado ', que está para ser lançado", acentua Vera.

Traz em seu álbum de recordações uma foto do memorável show de acordeons ocorrido na Praça Governador Portela, na área contígua ao prédio do Monte Líbano. "Foi em 1955 ou 1956, com todos os alunos do professor Sebastião Ferreira. Há na foto, inclusive, uma faixa fazendo publicidade de A Social, que patrocinou o tecido utilizado na época".

Aos doze anos de idade, Vera Viana integrou a apresentação de acordeonistas, todos alunos do maestro Sebastião Ferreira, conhecido como "Professor Bastião", durante a II Exposição Agropecuária e Rural de Bom Jesus do Itabaopana.




2a. GUERRA MUNDIAL E LIVROS

Vera vivenciou muito o clima da 2a. Guerra Mundial e se encanta até hoje com a letra da Canção do Expedicionário. "Observe os lindos versos: 'Você sabe de onde eu venho? /Venho do morro, do Engenho,/Das selvas, dos cafezais,/Da boa terra do coco, /Da choupana onde um é pouco, /Dois é bom, três é demais, /Venho das praias sedosas, /Das montanhas alterosas, /Dos pampas, do seringal, /Das margens crespas dos rios, / Dos verdes mares bravios /Da minha terra natal. /Por mais terras que eu percorra, / Não permita Deus que eu morra /Sem que volte para lá...' "

Lecionou Língua Portuguesa durante 28 anos. Foi professora no Colégio Rio Branco entre os anos de 1964 e 1970 quando casou-se e mudou-se para Pádua (RJ), acompanhando o marido que trabalhava no Banco do Brasil.
Vera já lançou os seguintes livros: "Trilhas Poéticas", segundo ela "o último editado pelo Conselho Municipal de Cultura, presidido por Dr. Ayrthon Borges Seródio", "Malu", "Enquanto Houver Tempo", "Deixe Cristo Renascer" e "Helena", editado este ano em homenagem a sua neta. Participou ainda de outros livros de Antologia, entre os quais se destacam: "Mil Poetas Brasileiros", "Poetas Brasileiros" e "A Figueira". Suas poesias foram publicadas, ainda, na revista norte-americana "Paradise".

Outros livros estão devem ser lançados em breve: "Das Brumas do Passado", "Circunstâncias", "De-Veras..., Di-Versos...", e um romance: "Trajetória".

Foi ainda fundadora, editora e redatora de "ASTROS & ESTROS", boletim alternativo de Prosa e Poesia, com circulação nacional e internacional.

Vera é membro do "International Writers and Artists Association", com sede nos Estados Unidos, assim como de inúmeras academias e entidades ligadas à literatura. É autora de diversos hinos de escolas e entidades bonjesusenses, como o da Academia Bonjesuense de Letras, e mantém o site www.veraviana.com.br.

LUZ DO MONTE AZUL

Em relação aos relatos da aparição da famosa Luz do Monte Azul, em Rosal, Vera disse que nunca a viu, mas, segundo ela, os antigos diziam que uma luz misteriosa costumava surgir, à noite, em caso de necessidade. "Um cavaleiro, por exemplo, que saísse à noite, em busca de um remédio, ou alguém que fosse procurar uma parteira, às altas horas da noite, estariam sujeitos a verem uma luz azulada, que iluminaria todo o caminho até o local de destino". Segundo Vera, há duas interpretações para isso. "Alguns atribuem a luz a um suposto minério. Outros atribuem a luz a alguma alma benfazeja". Fábulas típicas da região, como a do "Calango" e dos "Misteriosos Cavaleiros" estarão retratadas no livro "Brumas do Passado", que deve ser lançado no ano que vem.




BOM JESUS E A ARTE DE ESCREVER

"Bom Jesus é sagrada para mim. É uma cidade linda, redondinha. Sou também apaixonada pelo Pau-Ferro da Praça Governador Portela", que, aliás, foi objeto de uma poesia. Para Vera, "escrever é uma verdadeira catarse, é a purificação, a sublimação da alma". Diz que "não há métodos para se escrever. Do âmago surge a inspiração e obedece-se às regras gramaticais da língua. Leio, releio, pois quem escreve precisa atingir o máximo da perfeição". Além da música, gosta de " ler, tocar gêneros de música, compor, pintar e estar com meus familiares". Cada obra é como "um filho nosso, e não se faz distinção entre filhos. Se eu não fosse poeta, aceitaria o que Deus me proporcionasse. Gosto muito do que faço, mas se precisasse escolher, se não fosse poeta, eu gostaria de ser poesta mesmo, talvez ainda escolhesse a música e a pintura", salientou.

Se é costume dizer que por trás de um grande homem, há uma grande mulher, no caso de Vera pode-se dizer que por trás de uma grande mulher, há um grande homem: seu marido e companheiro José Roberto.

O objetivo de vida de Vera Viana é "servir a Deus, à família e à sociedade". Salienta ela: " Tudo o que me veio, foi por acréscimo, como diz a Bíblia. Não fui buscar. Entendo que a sabedoria é mais importante que a cultura. A cultura vem de fora, enquanto a sabedoria vem de dentro. Mas uma não subsiste sem a outra".

Vera, que graças à sua mãe, desenvolveu ao máximo suas potencialidades artísticas, tornou-se musicista, pintora, escritora, cronista, historiadora, trovadora e sonetista, constituindo-se em uma das maiores intelectuais e artistas de Bom Jesus do Itabapoana de todos os tempos.

Recentemente, ganhou a primeira neta: Helena, filha de Sávio Viana Borges e Karla. Foi Vera quem fez todo o enxoval da netinha.




O amor por ela é tão intenso, que editou um livro, assim como um cd e um dvd com músicas feitas especialmente para a criança.

Vera confidencia, ao lado de José Roberto: "Vou guardar o livro, o cd e o dvd no cofre para ela".

Nos versos e nas músicas, Vera dá orientações para Helena: "Falo sobre a escola, a natureza e dou conselhos".

Mas algo inquieta Vera: "Terei tempo para passar tudo o que aprendi para Helena?"

Vera preparou todos os caminhos para que a pequena Helena tenha a mesma força e o mesmo perfume que recebeu um dia de sua mãe Iracy: três Rosas Sublimes no jardim de Rosal, de Bom Jesus do Itabapoana e do mundo.





VOCÊ SABIA (1)?


O distrito de Rosal era chamado de Arrozal de Santana, passando a ter seu atual nome a partir de 1938, com a emancipação de Bom Jesus do Itabapoana. O nome Rosal deveu-se às rosas existentes na localidade.


VOCÊ SABIA (2)?

Um harmônio é um instrumento musical de teclas, cujo funcionamento é muito similar ao de um órgão, mas sem os tubos que caracterizam este último. Apesar de feito para uso doméstico, tornou-se um instrumento musical de uso típico em igrejas, por seu tamanho e preço. O som do harmônio é parecido com o do acordeon.



MINHA BOM JESUS

Vera Viana

Desce o Itabapoana, luzidio,
Vem beijar a cidade sedutora.
Seu céu, seu sol, luar em desvario,
Dão luz ao vale e à serra encantadora.

Sua praça tão calma, o casario,
O Calvário, a matriz acolhedora,
A ponte, os flamboyants na beira-rio,
Transmitindo uma paz confortdora.

Princesinha do norte-fluminense,
com honrados patrimônios culturais,
O "Pau-Ferro", esplendor bonjesuense.

Bom Jesus terra boa, tão amada,
De encantáveis belezas naturais,
Pelo Jesus tão bem abençoada.

(Da obra TRILHAS POÉTICAS, 2001)

(PUBLICADA NA EDIÇÃO DE 14 DE DEZEMBRO DE 2011)

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