segunda-feira, 21 de maio de 2012

O MAIS ANTIGO RELOJOEIRO DE BOM JESUS DO ITABAPOANA


Joaquim Cesário Martins da Costa, ou simplesmente Joaquim, é mineiro de Nova Era, município localizado próximo a Belo Horizonte. Nasceu na Fazenda São Manuel, no dia 17/07/1921. Seus pais, José Cesário Martins das Costa e Tereza de Jesus Martins da Costa, também nasceram em Nova Era. Seus bisavós são portugueses. Joaquim era muito curioso e quando possuía 16 anos resolveu tentar consertar um relógio do seu avô, Antônio Martins da Costa, na Fazenda onde nasceu. Detalhe importante é que, antes, o relojoeiro Avelino desmontara referido relógio e não conseguira montá-lo.


Alda Teixeira da Costa, a Aldinha, e Joaquim Cesário Martins da Costa


Joaquim aproveitou que seu avô adoecera, levou o relógio para o "quarto de arroz", e conseguiu montá-lo e fazê-lo funcionar. Sua paixão por relógios iniciou aí e permanece até hoje, tendo realizado um curso em São Paulo, através da loja Mazeti, especializada em relógios. Sua vinda a Bom Jesus do Itabapoana ocorreu assim: o relojoeiro Benedito Rosa, de Bom Jesus, mudara-se para Nova Era. Joaquim, que já tinha estabelecido a "Relojoaria Áurea", possuía o espírito aventureiro próprio de um jovem, e resolveu negociar com Benedito, que lhe oferecera o comércio de relógio que deixara em Bom Jesus.

Dessa maneira, Joaquim veio conhecer nossa cidade, se encantando por ela. Acabou retornando a Nova Era para acertar os detalhes do negócio feito com Benedito, retornando depois, definitivamente, pela Estrada de Ferro Leopoldina. Inicialmente, foi até Vitória (ES) para, em seguida, chegar a Santo Eduardo (RJ). Posteriormente, utilizou novamente o serviço ferroviário até chegar em Bom Jesus do Norte (ES). Aqui chegou em 22 de fevereiro de 1949 - data que se recorda como se fosse hoje - quando acontecia o segundo dia de Carnaval. Quando aqui chegou, havia um relojoeiro de pré nome Olegário.Estabeleceu-se na "Pensão do seu Niquinho", onde avaliou a possibilidade de se instalar definitivamente em Bom Jesus. 
Joaquim: parar de trabalhar é começar a morrer


 Joaquim se recorda que, certa vez, ao andar pelas ruas de Bom Jesus, vira uma moça que vendia bilhetes para ajudar na construção do busto do Padre Mello. Joaquim encantou-se imediatamente com a mesma: "comprei os cem bilhetes que ela levava consigo e lhe disse: 'faço isso para você não ficar exposta ao sol' ". A investida na bela jovem não parou por aí. Quando ela ia ao cabeleireiro, sempre que se preparava para fazer o pagamento, a funcionária dizia: "já pagaram para você".

O nome da jovem que conquistou o coração de Joaquim: Alda Teixeira da Costa, a Aldinha, com quem se casou cerca de um ano e oito meses depois e com quem convive amorosamente até os dias de hoje. A partir daí, definiu-se o seu projeto de estabelecer-se como relojoeiro. Assentou a Relojoaria Áurea na Praça Amália Teixeira, onde vendia também presentes e jóias, para depois fixar-se definitivamente no atual endereço, na Rua Buarque de Nazareth. Sua loja chegou a ter licença do Ministério da Guerra para vender armas e munições. Joaquim se recorda de um episódio em que "certa vez, chegou em minha loja um agente regional, com dois capangas, dizendo que iria levar as armas e munições de minha loja. Zezé Borges, o líder político da região, ficou sabendo do episódio e interveio, fazendo com que o agente fosse imediatamente embora de Bom Jesus, deixando em paz o meu comércio", salienta.


Um relógio com cerca de 100 anos foi deixado por cliente na relojoaria


Joaquim se recorda que levou cerca de seis meses para comprar uma residência que pertencia a Merhige Saad, em 1962. "Quero vender a casa para você, Joaquim", disse-lhe o libanês, ao que Joaquim replicou : "Não tenho dinheiro, afinal o preço é duzentos mil". Mas Merhige acabou facilitando a aquisição do imóvel, permitindo que Joaquim pudesse comprar sua própria casa. Joaquim e Aldinha possuem três filhos: Maurício, Ricardo e Marivone. Aposentou-se em 1982 e deu baixa na firma, mas continua até hoje no ofício de consertos de relógios. Colado num móvel da Relojoaria está um papel com a frase: "Trabalho é o sustento da velhice. Parar de trabalhar é começar a morrer". 

Se Joaquim é comedido nas palavras, o mesmo não se pode se dizer de Aldinha, que nasceu em Rosal no dia 22 de abril de 1925, filha de Emílio Teixeira de Oliveira e Jovelina Alves de Oliveira.

Com dez irmãos, foi alfabetizada por um professor português na fazenda onde morava. Conta Aldinha que seu pai possuía uma pensão em Bom Jesus do Norte (ES) e que "certa vez, chegara no estabelecimento um português de pré nome Manoel, que estava desempregado, com esposa e dois filhos. Meu pai convidou-o a dar aulas para os filhos na Fazenda de Cachoeira Grande e o português aceitou". Foi lá que o mestre lusitano ministrou aula para ela e para os cerca de vinte colonos. Até hoje Alda se recorda dos versos aprendidos em sua infância, e faz questão de declamar o poema "Gatinho": "Eu tenho um gatinho/Chamado Cetim/Alegre mansinho/Que gosta de mim/ Inventa brinquedos/E pula no chão/Eu fico com medo/Não tenho razão. Bem cedo na cama/Faz ele "miau"/Tanto me chama /Que até fico mau.

Alda diz que possuía nove anos quando seu pai faleceu: "as fazendas foram então vendidas e o tempo de fartura não mais continuou", conta ela, com tristeza.


Da esquerda para direita: Maura Teixeira de Oliveira, Jovelina Alves de Oliveira com Alda, de 2 anos, no colo, Sebastião Teixeira de Oliveira (atrás), José Teixeira, Ilda Teixeira, Emídio Teixeira de Oliveira e Ana Maria de Oliveira, em foto de 1927 tirada na Fazenda do Cachoeirão, em Rosal


No relógio da vida, Alda e Joaquim são os dois ponteiros a indicarem que sempre é tempo de cultivar a inocência da criança que existe em cada um de nós, ou seja, de ser simplesmente feliz.

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