domingo, 1 de setembro de 2013




“Algo muito grave vai acontecer...”

 

Por Luciano Rezende*

 

            Há um conto do escritor colombiano Gabriel García Márquez que ilustra bem o atual momento de pessimismo alardeado pelas vozes oposicionistas ao atual governo. A obra de ficção se chama “Algo muy grave va a suceder en este pueblo” (Algo muito grave vai acontecer nesse povoado).

 

            A narrativa começa com um pressentimento de uma velha senhora que, ao acordar numa manhã qualquer, tem a súbita impressão de que algo muito grave vai ocorrer em seu povoado. Seus filhos riem dela, chamam-na de louca, mas depois, meio cabreiros, começam a levar a sério o prognóstico da mãe. Ao comentarem com outras pessoas, mais gente vai acreditando no prenúncio da desgraça que inevitavelmente se abaterá sobre aquela gente que, até o momento, vivia em harmonia. No final, toda a vila é abandonada por temor dessa premonição vir a se concretizar e os mais desesperados chegam a atear fogo em suas próprias casas. Vendo a vila em chamas, a velha fala aos filhos: “Viram? Eu disse que algo muito grave ia acontecer, e me chamaram de louca”.

 

            Por mais inverossímil que essa estória possa parecer, recentemente assistimos algo similar, na vida real. A boataria de que o programa Bolsa Família iria terminar, organizada por criminosos, fez milhares de brasileiros correrem aos bancos, desesperados, para sacarem seus proventos. Pelas redes sociais – onde a informação é disseminada em escala alucinante -, a onda de pessimismo vem ganhando ainda mais evidência, com tempestades sendo noticiadas a todo o momento, mesmo em céu de brigadeiro.

           

            O Brasil tem sua inflação controlada, mantém o índice de pleno emprego (ao contrário das taxas altíssimas de desemprego dos países europeus que optaram pela austeridade em suas contas) e ainda promove uma distribuição de renda elogiada por todo o mundo. Mas contrário aos fatos, vivemos um clima de incessante tensão e pessimismo propagandeado pela mídia monopolista.

 

            Até economistas do campo conservador se pronunciaram contra a histeria promovida pelos apologistas do caos, dentre eles Delfim Netto e Francisco Lopes. Segundo Lopes, em recente artigo publicado no Valor Econômico, “a única coisa que fica clara é que a mídia especializada e a grande maioria dos analistas da economia parecem sofrer atualmente de um pessimismo obsessivo”. E arremata: “De fato a leitura que foi feita dos números do Banco Central configura um caso clássico do que a psicologia cognitiva denomina de viés de confirmação (confirmation bias) que ocorre quando as pessoas só são sensibilizadas por informações que pareçam confirmar suas crenças ou hipóteses, ignorando qualquer evidência em sentido contrário”. Bem o que aconteceu com os personagens de “Gabo” em seu conto resumido acima.

 

            Mesmo com todas as evidências em contrário, a pauta negativa é exibida nos noticiários incessantemente. Incutem no imaginário das pessoas que algo de ruim está prestes a nos acometer. Se o dólar está barato, todo mundo reclama que a indústria vai mal e agora, quando começa a subir, continuam reclamando.

 

            Mas diferentemente do povoado citado por García Márquez, o Brasil é um grande país (não é mais quintal dos EUA, como era até pouco tempo atrás quando esse país espirrava, ficávamos gripados), tem a sexta maior economia do planeta e vem adotando uma política desenvolvimentista para superar as duas décadas perdidas (1980 e 1990) sob direção de governos liberais.

 

            A continuar esse caminho, intensificando as mudanças progressistas que clamam o povo brasileiro, algo de muito positivo vai acontecer (ou continuar acontecendo) em nosso país. Ao contrário da pregação dos cavaleiros do apocalipse.

 

Referências:

 

MARQUEZ. G. G. Algo muy grave va a suceder en este pueblo. In: http://www.ciudadseva.com/textos/cuentos/esp/ggm/algomuygravevaasuceder.htm.

 


 

*Engenheiro Agrônomo, mestre em Entomologia e doutor em Fitotecnia. Professor do Instituto Federal Fluminense (IFF)

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