segunda-feira, 9 de setembro de 2013

 Da Série Entrevistas de O Norte Fluminense

A ALEGRIA DE SER VICENTINA



Maria Catarina da Silva Souza

Maria Catarina da Silva Souza nasceu no distrito da Serrinha no dia 18 de setembro de 1930, embora sua certidão de nascimento conste que ela nascera no ano de 1928.

O erro ocorreu pelo fato de seu pai, Moacir Modesto da Silva, não ter tido o costume de registrar em Cartório o nascimento dos filhos, mas apenas assinalar num caderno o dia do nascimento dos mesmos.

Segundo ela, após o falecimento de seu pai, ela acabou sendo registrada no Cartório do Nico Fragoso como se tivesse dois anos a mais.

Maria Catarina conta que seu pai tem descendência de italianos. "Meus avós paternos se chamavam João Modesto, que veio da Itália, e Zilda, enquanto meus avós paternos se chamavam Custódio Mendes e Catarina Mendes. Toda a minha família, por parte de mãe, é originária da Serrinha e de Matinha, lugarejo próximo da região", salienta.
 
Continua ela: "tive 10 irmãos, sendo dois falecidos: Jaci, Neuza, Joari, Ironete, Irizete, Ésio, Edson, Zulei e Edna. Jaci e Neuza já partiram".

Catarina com as irmãs Ironete e Irizete e, em pé, a nora Maria da Penha e a mãe desta, a aniversariante Ardir Ribeiro


Segundo Maria Catarina, "casei-me  com Antonio Martins de Souza, em 21/12/1951, e tive dois filhos: Moacir, que partiu aos 54 anos, por causa da diabetes, e Márcio Antonio".  

É com orgulho que ela fala dos netos Taís, Manuela, Clarissa e Tales, e do bisneto Pietro, com 2 anos de idade. E é com orgulho, ainda, que fala de sua trajetória de vida: "Saí pequena de Serrinha e fui morar em Carabuçu, na casa de Moacir, um fazendeiro. Estudei o primário na Escola Típica Rural de Carabuçu, e lá cursei a admissão.

Posteriormente, estudei Educação Física em Niterói (RJ) e fiz um curso de Atividades Rurais, que me habilitou para trabalhar em escolas rurais.




Depois, consegui uma subvenção da Prefeitura. Mas foi graças ao apoio de Nico Fragoso, que era escrivão de cartório, e de Alcebíades de Souza, que era subdelegado em Carabuçu, que consegui um cargo na Prefeitura e passei a dar aulas na escola da Serrinha em 1946. Nessa ocasião, o prefeito era Oliveiro Teixeira", assinala.



Maria Catarina (C) e alunos da escola da Serrinha, em foto de 1947



Escola da Serrinha, nos dias de hoje: prédio abandonado e movimento para torná-lo um Centro Cultural


Maria Catarina conta que "sempre gostei de ensinar crianças. Fiquei morando um tempo, na Serrinha, na casa de Manoel Nunes, irmão de Zico Nunes, uma vez que a casa da escola estava guardando café em coco, tendo se tornado uma espécie de armazém. A escola estava localizada na fazenda de Cebas Ananias, que morava em Santo Eduardo. Custódio Quintal era o administrador da fazenda. Posteriormente, fui morar na casa de Custódio".


Maria Catarina em foto de 1949


"Eu ia a cavalo, de Carabuçu para Serrinha, todo o início da semana, e retornava com o fim das aulas.
Dei até de médica na escola da Serrinha. Quando as crianças tinham diarréia, eu preparava um chá que aprendi com minha mãe. Outras professoras passaram pela Serrinha, antes de mim, mas eu fui a professora que mais tempo ficou por lá, por cerca de 5 anos. Por isso, tenho muitos afilhados na região. Até hoje, há ex-alunos que me reconhecem na rua, me abraçam e me cumprimentam".

Ela conta um fato pitoresco: "Ultimamente, por duas vezes, fui vítima de furto na rua, ocasião em que me levaram as bolsas. Eis que, certo dia, recebi um abraço de um homem que eu não conhecia e me preparei para dar bengaladas nele, pensando que era um outro assalto. Eis que, de repente, o homem exclama: 'você foi a minha primeira professora'. Eu fiquei desconcertada e deixei que o abraço se prolongasse", registra ela.

Com o casamento em 1951, Maria Catarina deixou Serrinha e foi trabalhar em Carabuçu, na Fazenda Liberdade, de propriedade de Nelson Motta. Em 1952, foi trabalhar na Escola Estadual da Usina Santa Isabel, pela Prefeitura Municipal.

"Depois, levaram-me para trabalhar na Biblioteca Municipal, na cidade, onde me aposentei. Daqui de Bom Jesus só saio para a 'Chiquita Menezes' ", nome dado à capela mortuária local.

LEMBRANÇAS

"Recordo-me que, certa vez, quando eu dava aulas na Serrinha, uni-me a alunos, e colocamos fogo nas bananeiras da propriedade de Custódio, para espantar as abelhas que ali ficavam, para pegarmos mel.

Lembro-me, ainda, de Osório, engenheiro das Escolas Rurais, que era amigo de Amaral Peixoto, e de Flora Arieti de Oliveira, diretora da Escola Rural Típica de Carabuçu.

Prefeito Jorge Assis, o inspetor de ensino Valter Fiori, Carlos Borges Garcia e Maria Catarina, na Prefeitura Municipal, em 1968


Recordo-me, ainda, de José Camilo, que veio de Itaperuna para Bom Jesus. José Camilo trabalhava como magarefe e meu marido, Antonio, levava os carros do matadouro.

Maria Catarina organizava os festejos de fim de ano, na Prefeitura. Entre os ouvintes, na foto, estava Osório Carneiro (3o. à esquerda), o fundador do jornal A Voz do Povo


Todas as manhãs, meu marido trazia José Camilo para tomar café em nossa casa. José Camilo tomava conta de meus filhos, quando estes iam para a rua. Eu e meu marido ficávamos tranquilos com os nossos filhos. Depois que Antonio partiu, José Carlos continua prestanto homenagem a Antonio, tomando café da manhã em minha casa.

Gostaria de salientar que meus filhos sempre chegavam na hora marcada. Infelizmente, hoje a criançada está do jeito que está, pois é proibido castigar os filhos. 


A MAIOR TRISTEZA


Os momentos mais tristes pelos quais passei, e que marcaram minha vida, decorreram da morte de meu filho Moacir e de meu esposo. Em relação ao meu filho, recordo-me que, certa vez, eu acordei , à noite, ouvindo gemidos dele, que dormia na 'cadeira do papai'. Fui até ele, que me disse: 'poxa, mãe, logo agora que eu consegui dormir a senhora me acorda'. Deixei-o dormir e retornei para minha cama. Observei, contudo, que os gemidos continuavam. Fui até meu filho Márcio e disse: 'leva seu irmão ao Hospital, agora'. Moacir ficou internado por 3 dias e faleceu, por diabetes", lembra com os olhos marejados.

 Maria Catarina criou, também, duas sobrinhas e diz: "Hoje, perdi a visão no olho direito e enxergo pouco com o olho esquerdo. Tenho problemas de saúde". Não obstante isso,  há 40 anos ela integra a Conferência São Vicente de Paula e salienta: "Ser vicentina é maravilhoso. Conheço todos os morros de Bom Jesus e me realizo cuidando dos meus pobres", exclama com emoção.


André Luiz de Oliveira: "Maria Catarina vive o que prega"

André Luiz de Oliveira, que é vicentino desde julho de 1992, atesta que "Maria Catarina é uma pessoa que vive o que prega. Ela sempre está à disposição das pessoas necessitadas e nunca diz 'não' aos assistidos pela Conferência. Ela sempre ensina que para ser vicentino tem de ter humildade, honestidade e simplicidade. Tenho aprendido muito com ela e com todos os confrades", ressalta.



Maria Catarina termina a entrevista deixando para as novas gerações a seguinte mensagem: "Amor e Verdade, pois observo que é difícil ajudar os que precisam com verdade, sem mentira", finaliza.


Maria Catarina: amor e verdade

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