segunda-feira, 26 de maio de 2014

PREFEITURA DE VARRE-SAI (RJ) IGNORA SEU FILHO MAIS ILUSTRE: BADEN POWELL



Enquanto o varre-saiense Baden Powell, que aniversariou no dia 24 de maio, é reverenciado no mundo como "o maior violonista da história", como atesta o artigo abaixo, de Luis Nassif, a Prefeitura Municipal de Varre-Sai (RJ) simplesmente ignora-o, preferindo  devotar-se a festas regadas a bebidas e shows midiáticos com dispêndios vultuosos e vulgares, que nada condizem com as tradições de seu povo. Vejam a matéria em  
http://jornalggn.com.br/noticia/baden-powell-o-dono-das-nossas-emocoes-o-maior-violonista-da-historia



Baden Powell, o dono das nossas emoções, o maior violonista da história

A convivência com o compositor Eduardo Gudin é interessante por vários motivos. 

Primeiro, pelo grande músico que é. Depois, pelas histórias em comum de uma velha amizade, desde os festivais da Tupi e o início do Bar do Alemão. Finalmente, por sua inteligência musical. Isto é, a capacidade de entender e conceituar fatos e movimentos musicais, algo raro mesmo entre os músicos.

Já tivemos grandes discussões sobre a bossa nova e o samba-choro. Eu dizia que o samba-choro e o sincopado tiveram influência pouco estudada na formação e balanço de João Gilberto. Ele entendia que eu queria dizer que ambos os estilos tinham sido os que mais influenciaram a bossa nova, e não o samba. Como se tudo tivesse nascido do choro.

Chegamos a um acordo. O samba-choro e o sincopado foram influências que mereciam uma avaliação melhor, mas não a ponto de serem centrais. Central foi o samba.

Um outro tema em que ele matou a charada foi sobre uma característica das interpretações em bandolim, que nem mesmo a maioria dos bandolinistas entende (embora os melhores pratiquem). Foi um estilo minimalista desenvolvido por Jacob do Bandolim, que poderia ser classificado como “pulsação". Quando se fere uma nota, ela vibra - mais do que em outros instrumentos de corda. A arte da pulsação consiste em casar essa vibração com o andamento das notas. É como se caminhassem duas linhas rítmicas: a das notas marcando o compasso e as vibrações, como sendo microcompassos entre cada nota. 

Ontem, a conversa final da noitada foi sobre Baden Powell.
Nenhuma discordância: foi o maior violonista da história. Salve Garoto, Raphael, Yamandu, Paco, Pass e Django, mas como Baden, nenhum.

E qual o segredo de Baden? Não há mensuração possível. Seu violão não sofisticava a harmonização, nao gastava acordes. E aí me lembrei do primo Oscar e eu, na adolescência, tentando classificar Paulinho Nogueira e Baden, que surgiram quase na mesma época.

Oscarzinho dizia: Paulinho é mais técnico, Baden tem mais... tem mais...  Balanço? sim. Improviso?, sim. Mas não era apenas isso. O que seria então?

Agora, aguardando o elevador, tentávamos decifrar o enigma Baden. Era o toque de gênio, a mão de Deus. Nunca procurou ser o mais rápido de todos, embora pudesse; nunca deixou de estudar e nunca deixou que os estudos embotassem a enorme criatividade. Ele tinha o toque para qualquer passagem da música, para qualquer improviso. Você poderia estar no fim do mundo. Se ouvisse o violão de Baden, reconheceria na hora.

Lembrei-me da gravação histórica dele com Grapelli, o grande violinista parceiro de Django Reinhardt. Perguntei a Baden como tinha sido a gravação. Ele me contou que viajou o dia inteiro, chegou no estúdio e começaram a tocar, sem nenhum ensaio.
Para Raphael Rabello, Grapelli foi mais específico. Além de não terem ensaiado nada, Baden chegou completamente bêbado. Mesmo assim, saiu a obra prima.

Para mim, o maior momento de Baden foi em um show no Olimpia de Paris, em 12 de maio de 1974. Por aqui, essa gravação apareceu apenas nos anos 90. Acompanharam-no Guy Pedersen, Joaquim Paens Henriques e Pedro Sorongo (http://tinyurl.com/klwwdft).
Nos últimos anos de vida, Baden esteve irreconhecível. Fui a alguns shows dele. Ele tocava rasqueado (a maneira de bater nas cordas com as mãos), deixando de lado os harpejos, os dedilhados, os acordes.

Ontem, Gudin me contou o que ocorrera. Perdeu as articulações da mão direita e, depois, foi afetado pela diabetes.
Nos últimos anos trabalhava na SBAT para sobreviver. Tornou-se evangélico e não queria mais saber dos afrossambas.
Sossegou apenas quando morreu. Mas garanto que nenhum outro músico mexeu mais com a emoção das pessoas que o violão de Baden. Pergunte ao Gilberto Gil, ao Caetano, e a todos de nossa geração.

E nem comecei a falar de Baden compositor, dos maiores da música brasileira.

Meus momentos mais emotivos se repetem sempre que ouço “Violão Vadio”. Me traz de volta as lembranças de Poços, das irmãs e primas em torno do violão do primo Oscarzinho.

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