quinta-feira, 30 de julho de 2015

LENICE XAVIER, a nova articulista de O Norte Fluminense






Lenice Xavier de Almeida é a nova articulista de O Norte Fluminense. Pertence à antiga e tradicional família Xavier de Bom Jesus, filha do casal Inah Caldeira Xavier/Levy de Aquino Xavier, neta de Baldina/Samuel de Aquino Xavier. Aos 16 anos foi estudar em Niterói/RJ, tendo seu pai falecido logo após, naquela mesma cidade, razão por ter ali permanecido para concluir seus estudos, dar início à vida profissional e constituir família. 

No ano de 1989, transferiu-se para a cidade de Vitória/ES, por razões profissionais, tendo ingressado na Assembleia Legislativa do Espírito Santo em 1991 e encerrado suas atividades no serviço público em novembro de 2012.

Desde a adolescência teve inclinação para a escrita, dom que herdou de seu pai Levy, que se identificava com poesias e contos. Ainda na adolescência gostava de escrever textos de cunho filosófico, talvez por ter sido uma criança irrequieta, atenta e curiosa, criada em meio a adultos e idosos, mas dava seus primeiros passos na poesia, quando a de título “Por que a vida?” sua primeira no estilo livre, foi publicada pelas Letras Fluminenses no ano de 1986.

A partir do momento que seu principal ofício em locais de trabalho foi a redação de documentos oficiais, não filosofava ou poetizava com muita frequência. Seguiu escrevendo poemas, e, a certa altura, adotou o estilo de crônicas, no qual permaneceu por muitos anos, tendo publicado algumas peças em jornais e revistas regionais sem muita expressão.

Há dois anos, ao retornar para as suas origens, na terra do Senhor Bom Jesus, afeiçoou-se e se deteve mais na observação da natureza, em seus mais amplos aspectos, tendo ficado surpresa com a diversidade de pássaros da região, o que lhe tem emprestado muita inspiração. A partir dessa nova fase, intensificou suas reflexões sobre a vida, os sentimentos, a natureza, estando, desde então, escrevendo textos que considera muito simples, de fácil leitura e compreensão, permanecendo mais nessa linha, em detrimento de inspirações sobre a vida cotidiana e, em alguns casos, por atingir pessoas que se identificam com tal tendência. Segue seu primeiro artigo escrito para o nosso jornal.


 
Lenice Xavier



Com a permissão do meu querido primo Elcio Xavier, publico esta peça de sua autoria, escrita no ano de 2000 para o Encontro da Família Xavier em Bom Jesus do Itabapoana/RJ, em homenagem ao meu saudoso e tão amado pai Levy Xavier.
 

"A VIDA MUSICAL DE LEVY XAVIER

Levy de Aquino Xavier, filho de Samuel e Baldina, neto dos irmãos Carlos e Júlio, foi o grande herdeiro dos dotes musicais da Família Xavier, cujos descendentes sempre se sobressaíram com brilhantismo na arte de APOLO, dentre os quais, de passagem, podemos incluir Júlio de Aquino Xavier, o filho, excepcional músico, grande maestro; Samuel e seu bombardino; Baldina, jovem pianista, que a dura labuta doméstica impediu seu progresso musical; Candoca, o preferido dos maestros com quem tocou, Euclides e Juvenal, seus irmãos; Homero e Bininho, irmãos de Levy, e seus sucessores, entre os quais se sobressaem Samuel Cerqueira Xavier, o sobrinho, e Arthur, sobrinho de Samuel, de apenas 15 anos e já o primeiro piston da banda de música de Laje de Muriaé. 

Levy, o artista, por desmensurado amor à sua cidade natal, Bom Jesus, preferiu a vida provinciana às glórias de uma promissora carreira na cidade grande. Defendia seus ideais de maneira quase radical, com veemência, o que lhe ocasionou muitas decepções. Era de uma lealdade pura aos seus ideais e aos seus amigos, e seu coração sempre esteve repleto de amor e esperança. Um grande filho e um extremado pai, foram qualidades marcantes em Levy. Falemos dele como músico: Em 1920, aos 15 anos de idade, iniciou seus estudos musicais em Bom Jesus com o maestro Muylart. Como esse professor não era muito assíduo às aulas, pouco aproveitou na aprendizagem. 

Em 1921, conheceu um músico campista, Nilo Constantino da Silva, que reconhecendo sua aptidão nata para a música, ofereceu ensinar-lhe, sob a seguinte condição: “todo aquele que perder uma aula terá de pagar uma multa de mil réis, tanto o aluno como o professor.” Levy passou rápido pela Artinha e o Solfejo, cumprindo cinquenta lições em noventa dias, incorporando-se à banda de música local como primeiro piston. No ano de 1923 viajou para Juiz de Fora, quando se inscreveu na Academia de Comércio daquela cidade, e passou a integrante da banda escolar como pistonista. Infelizmente adoeceu e regressou à Bom Jesus. Após seu regresso passou a fazer parte da 1ª Orquestra Bonjesuense, sob a direção do maestro Leopoldo Muylart, e participou, nos anos de 1923 e 1924, das bandas de música organizadas para abrilhantar as festas locais. 

Em 1925, o maestro Leopoldo não quis organizar a banda para os festejos do mês de maio, alegando que o povo não valorizava música e não se criava uma corporação musical permanente. Diante da recusa do maestro, a comissão dos festeiros saiu batendo à porta dos músicos mais velhos, implorando que não deixassem o mês de maio sem música, mas não conseguiu comovê-los. Foram, então, ao jovem Levy Xavier que ficou surpreso com tal proposta recusando-a também. A pressão continuou, e ele acabou concordando em liderar um grupo, que, por ter sido criado em maio, recebeu o nome de “FLOR DE MAIO”, por indicação do Padre Melo. Este grupo durou apenas um ano, porque os instrumentos eram emprestados e uma nova banda estava em organização na vila. Era a LIRA FUTURISTA, fundada em 1926, tendo como regente o maestro Leopoldo Muylart, que obteve grande sucesso até agosto de 1926. Após a Festa de Agosto, tendo o maestro adoecido e necessitando procurar recursos médicos na cidade de Campos, chamou Levy e lhe fez a seguinte proposta: - “Toma conta da minha orquestra no Cinema Bom Jesus e mantém a banda em atividade. Se eu voltar, hei de ensinar-te tudo o que sei e, se eu morrer, lá da eternidade eu te ajudarei.”

Leopoldo morreu e seu sucessor veio de Campos: maestro Baetinha, competentíssimo, porém irrequieto, sendo logo substituído pelo maestro Clóvis Brandão. Durante todo esse tempo Levy foi o 1º piston, e nas folgas ia tocar em Rosal, Calçado, São Pedro e Santo Eduardo, onde sua presença era exigida por ser reconhecido como grande músico. Há um fato de grande realce na vida do nosso homenageado: Em 1925 deu seus primeiros passos como regente de banda, na cidade de São Pedro. Em 1928 ajudou a organizar as bandas de música de Boa Vista (Apiacá): Lira Santo Antônio e Lira Boa Vistense. Em 1929, organizou uma festa em Santa Angélica, a qual dizia ter-lhe dado muito trabalho e despesa, por ser uma festa cívica, em 7 de setembro, cabendo-lhe ensinar as crianças a marchar para o grande desfile militar, além de tê-las vestido de branco com um laço de fita verde e amarela no braço. Em setembro do mesmo ano foi chamado a Santo Eduardo para dirigir a banda local, a qual atravessava uma fase difícil. Reorganizou essa banda e em um ano e meio ela se tornou referência em qualidade na região. Em 1931, por necessidade financeira resolveu montar uma casa comercial em Mutum, logradouro às margens da rodovia Bom Jesus - Campos. 

Uma tarde, enquanto executava em seu piston, um trecho da Sinfonia do Guarani, passou de automóvel pela estrada o usineiro José Carlos Silveira Pinto. Ao ouvi-lo, parou o carro e foi ao seu encontro propondo-lhe organizar uma banda de música em sua usina. Levy fechou sua venda, para a qual não tinha muita aptidão, e foi para Santa Maria. Ali, em noventa dias, colocou na rua uma corporação musical brilhante, segundo diversas opiniões, quando ela desfilou garbosa pelas ruas de Bom Jesus. Por motivo de saúde foi forçado a deixar Santa Maria 18 meses após sua mudança para aquela usina, regressando a Bom Jesus. Mas a música em sua vida era mais forte que as condições físicas e, julgando-se curado, organizou em 1933, o Jazz Sorriso, que abrilhantou os bailes bonjesuenses até 1938, sobretudo os inesquecíveis carnavais de nossa terra. Finalmente, teve que ceder à precariedade física: seu coração impedia os esforços que seu instrumento exigia do corpo.

Recolhido à família, dedilhava sempre que podia seu violão, cantarolando suas composições musicais, cujo acervo vasto e valioso, está sob a guarda de seus filhos. Encerrou seus dias como um eterno sonhador e os anjos no céu devem tê-lo recebido com um majestoso coro de trombetas."


Os descendentes de Levy Xavier, meu amado pai, só tomaram conhecimento dessa sua trajetória primeira, ao ser contada de forma tão primorosa por seu querido sobrinho Elcio Xavier.

Este extraordinário músico não tem hoje, nenhuma referência na área musical na terra onde nasceu e viveu toda a sua vida...

Lenice Xavier

Nenhum comentário:

Postar um comentário