domingo, 1 de novembro de 2015

POR QUEM DOBRAM OS SINOS?




        Saulo Soares


        
                   Há uma significativa e consoladora imagem judaica sobre a morte: um navio de partida. Dizem: quando alguém morre é como se um navio desaparecesse na linha do horizonte. Não mais o vemos. No entanto, do outro lado, no Grande Porto, avistam-no e, alegres o saúdam os que antes partiram.

         A linha do horizonte é a linha da visão, do que podemos enxergar. Não se trata, notem, de uma linha vertical, mas, horizontal, igualitária. De fato, a morte nos iguala e põe por terra as diferenças num grande abraço. A cruz também traz esse sentido: o encontro de uma linha fincada na terra e apontando para o céu na vertical e de outra, que se estende no horizonte, como braços que a todos quer enlaçar...

         Uma bela e antiga homilia sobre o Sábado Santo diz que, "descendo à mansão dos mortos", Jesus procura por Adão, estende-lhe a mão e lhe diz: "...Eu sou o teu Deus...Levanta-te, pois não te criei para que fiques prisioneiro... Eu sou a Vida dos mortos". Que Deus amoroso! Fomos feitos para estarmos em pé, não curvados. Livres e para a Vida que ele nos reservou em seu Amor que ressuscita!

         Gustavo Corção, em Lições de Abismo, recorda-nos a caráter inevitável da morte. Entretanto, diz ele, quando ela chega a nós ou a um dos nossos nos parece um absurdo. E por quê? Porque em nós, penso – mesmo nos descrentes! - há um latente germe de eternidade a sussurrar: "Sois de Deus, sois do Eterno!"

         A morte nos faz "lembrar" o que está por vir: a nossa partida. Torna-nos mais conscientes da nossa humanidade e deveria fazer de nós mais solidários e urgentes no bem. No samba "Quando eu me chamar saudade", de Nelson Cavaquinho, podemos escutar: "Sei que amanhã quando eu morrer, os meus amigos vão dizer que eu tinha um bom coração... Mas depois que o tempo passar, sei que ninguém vai se lembrar que eu fui embora. Por isso é que eu penso assim: se alguém quiser fazer por mim, que faça agora!" E termina: "Me dê as flores em vida, o carinho, a mão amiga, para aliviar meus ais! Depois que eu me chamar saudade, não preciso de vaidades, quero preces e nada mais!"

         Com certeza você viu partir pessoas amadas. Estão em Deus, creia! Lembro-me o que me disse um jovem, citando uma canção: "As flores de plástico não morrem..." Retruquei: "Não, as flores de plástico não vivem..." Não somos de plástico, nem descartáveis, temos valor, vivemos!

         Cada um de nós é uma obra única, irrepetível, rara, de incalculável valor! É o que nos diz um trecho de "Meditações XVII", do inglês John Donne: "Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra. Se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída... a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.

         Por fim, João 12,24: "Se um grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto."

         Sigamos em frente! Deus está ao nosso lado!


         Grande abraço.






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