terça-feira, 19 de janeiro de 2016

POETAS BONJESUENSES. ed. O Norte Fluminense

ELCIO XAVIER







POBRE JARDIM DE ALDEIA

Pobre jardim de aldeia
onde deixei meus oito anos
junto ao chafariz de trevos,
leva-me ao teu grande mar
neste solitário fenecer!
Quero rever o castelo marinho,
a tempestade, o primeiro encontro,
as rosas-fadas que me amaram
e as queixas dominicais
de tuas sombras frescas.
Falta-me o azul de tuas tardes
e sinto que não verei o luar.
Não encontro meu sangue
nas lutas que partem da notie.
Não tenho memória dos tempos
nem vejo meu rosto na lagoa.
O Mundo sucumbirá num suspiro
se minha infância não regressar.

(Do livro "O Véu da Manhã", 2ª edição)

DR. AYRTHON BORGES SERÓDIO



NO TÚMULO DE MEU PAI



Roubado cedo ainda, em hora imprópria à vida
Qual ave na procela arrebatada ao ninho,
Partiu meu pai deixando em seu caminho
A mágoa sem remédio, e a queixa mais dorida.


Qual árvore frondosa, a muitos deu guarida,
E um amigo jamais deixou sofrer sozinho.
Honesto, humilde e bom, e farto de carinho,
Um exemplo a seguir em meio a nossa lida.


Cumprindo um ritual, desejo mortuário,
Como da vez passada eu volto ao sepulcrário,
Uma ilha de paz onde impera a igualdade.


Contrito na mudez e presa da amargura,
Vejo através da campa, em sua sepultura,
Um punhado de cinzas... E uma eterna saudade!...

(Do livro "A Seara de Vento & O Sacrifício Inútil")



ONOFRE NUNES DA SILVA



A BOLA DE PANO




Quando cheguei no mundo e muito pequenino

Brincava alegremente em baixo do arvoredo.

À sombra generosa ou sob o sol a pino

Uma bola de pano, eu tinha por brinquedo.



Não era como agora; entre tristeza e medo

Na malha da ilusão perdi-me em desatino.

Chorando o que passou eu vivo num degredo,

Embora com lauréis e vida de granfino.



Quantas vezes na vida, estou a recordar,

Dos momentos passados a andar no folhedo,

Às vezes a correr sob a luz do luar.



Não achei nesta vida, a tal felicidade!

Talvez ela se encontre a dormir, em segredo,

Na bolinha de pano a rolar na saudade.



(Do livro "Flores do Perdão")

ADILSON FIGUEIREDO




MINHA CASA RENOVADA 

Renovo

Como um nicho meu espaço revisitado
Reabri em mim um caminho
Libertei ares de novo
Pintei minha casa, refiz a paisagem.
Meu coração parou do mesmo jeito que estava.

Cada cantinho uma delícia escondida
A cada café as surpresas, ver a vida vivida com os amigos e saborear o pão.

A casa de perto o amor aconchega e aperta o coração no desejo.
Fico feliz no lar, onde a doçura das horas passa a contemplar a existência. 

(Do livro "Dois pontos: Pontuando o viver, pontuando a mim mesmo"

PADRE MELLO




CRIANÇAS
Quando vos vejo, crianças
cantar, pular e sorrir
nos ombros soltas as tranças,
fitas no chão a cair;

Quando vos vejo contentes
sem sombra de algum pesar,
sem saudades de ausentes,
sem os cuidados do lar;

Quando vos vejo o olhar doce
em qualquer um que mirais
como se o mundo só fosse
o que vós sois e não mais;

Então me lembra, crianças;
que já fui o que vós sois,
e que ao tombar de esperanças
sereis o que eu sou... depois!

( Do livro "Obras selecionadas de Padre Mello")


Obs.: livros publicados pela Editora O Norte Fluminense, de Bom Jesus do Itabapoana/RJ, Brasil. E-mail: onortefluminense@gmail.com. Blog: onortefluminense.blogspot.com. Janeiro de 2016.






Nenhum comentário:

Postar um comentário