quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

ANTÔNIO DUTRA: O HISTORIADOR

Antônio de Souza Dutra



Antônio de Souza Dutra é um dos grandes intelectuais e historiadores bonjesuenses.

Filho de Joaquim Dutra de Moraes e Thereza Cristina Sousa Dutra, nasceu na zona rural de Quebrados no dia 10 de janeiro de 1898 e teve oito irmãos: Ludovino, Joaquim, José, conhecido como Caboclo, Augustinha, Ana Alexandrina, conhecida como Anita, Maria Tereza, conhecida como Mulata e Maria Clementina, conhecida como Pitita.

Com 13 anos de idade, mudou-se para a cidade, onde foi trabalhar na "Pharmácia Normal", de propriedade de Pedro Gonçalves da Silva Jr., conhecido como Cel. Pedroca, que foi o nosso primeiro prefeito a partir instalação do município, no dia 25 de dezembro de 1890.


"TROQUEI A ENXADA PELA ESPÁTULA"

Maria Apparecida Dutra Viestel, filha do historiador Antônio de Souza Dutra


Segundo Maria Apparecida Viestel, sua filha, "meu pai era franzino e não se adaptou ao trabalho da zona rural. Foi assim que deixou os 8 (oito) irmãos na roça e foi trabalhar na Farmácia Normal, como limpador de vidro e manipulador de receitas. A Farmácia Normal tinha sido adquirida por meu avô de um integrante da família Camargo, um tio-avô da pianista conhecida como dona Nina. Meu pai costumava dizer: 'Troquei a enxada pela espátula'. No prédio do estabelecimento, havia um apartamento que meu avô destinava a seus empregados e foi ali que meu pai passou a residir. Foi ouvindo as conversas de meu avô com as pessoas que ali compareciam, já que a Farmácia Normal era um local de encontro dos intelectuais da época,  que meu pai se interessou pelos livros e pela leitura", assinalou.


Quanto à importância da Farmácia Normal como centro de cultura de nosso município, Delton de Mattos, um dos gênios de nossa literatura, testemunhou, no prefácio do livro "Páginas Memoráveis de Bom Jesus do Itabapoana", que contém textos da obra do historiador, que " a Farmácia Normal de outrora não era apenas um estabelecimento de fazer e vender remédios, mas também verdadeira e autêntica Academia de Letras, em que se reuniam as figuras mais expressivas da vida cultural da cidade, tão só para discutir ideias e falar de livros, isto com tal regularidade e competência que poderia fazer inveja à escassa e quase nula produtividade de qualquer agremiação provinciana do nosso tempo" (pág. 12).

Farmácia Normal (direita), autêntico centro cultural de Bom Jesus, foi desapropriada e demolida em 1948, passando a funcionar na parte inferior do prédio contíguo, à esquerda, que serviu de residência do Cel. Pedroca


Delton acentuou que " quando eu frequentava o curso ginasial do antigo Rio Branco, que concluí em 1942, sempre que podia continuava a procurar o aconchego e a atmosfera literária da Farmácia Normal".

Assinalou, outrossim, que, ao promover as compras de livros, "recorria à notória competência do erudito proprietário da Farmácia Normal, que sempre me recomendava os títulos mais importantes e até concordava, por assim dizer, em 'adiantar-me' alguns dos seus preciosos volumes que depois seriam repostos, quando me chegavam as novas encomendas" (pág. 13).

Ao final do prefácio, Delton registrou: "Parece que não haveria meio mais a meu alcance para cultuar a memória dos intelectuais da Farmácia Normal, dos quais Antônio de Souza Dutra foi expoente tutelar, do que colocar à disposição dos leitores bonjesuenses dos nossos dias esta utilíssima obra, que retrata com fidelidade e competência os principais fatos da nossa história". 

O livro com textos do historiador, editado por Delton de Mattos, baseou-se nos escritos publicados no jornal A Voz do Povo. 

Delton de Mattos pesquisou textos de Antônio de Souza Dutra no jornal A Voz do Povo



A respeito do historiador, sua filha Maria Apparecida Viestel assentou ainda: "meu pai acabou casando-se com mina mãe Alice, filha do meu avô Cel. Pedroca. Ele chegou a iniciar o curso de Farmácia na Faculdade de Leopoldina (MG), mas teve que interromper os estudos, devido à doença de meu avô. Com o falecimento deste, meu pai assumiu a Farmácia Normal. Em 1948, o antigo prédio onde ficava situada a farmácia foi demolido para abrir a Rua República do Líbano. A Farmácia mudou-se, então, para a parte inferior do prédio contíguo, onde residia o Cel. Pedroca, localizado na Praça Governador Portela. A Farmácia Normal funcionou até 1980, quatro anos após o falecimento de meu pai, ocorrido no dia 14 de fevereiro de 1976, uma vez que meu irmão Pedro se sentiu vocacionado apenas para o magistério e a política. Meu pai era uma pessoa introvertida e nada social. Ele era devotado ao trabalho, aos livros e à família. Era apaixonado por leitura e por pesquisas".

Do casamento com Alice Gonçalves da Silva, Antônio Dutra teve três filhos: Maria Apparecida Viestel, Pedro Gonçalves Dutra e Lúcia Gonçalves Dutra.

Maria Apparecida Viestel, casada com Ruimar Viestel, teve os seguintes filhos: Maria Alice, Miguel, Maria Adelaide, Marco Antônio e Maria Angélica. Pedro, casado com Auta de Oliveira, teve três filhos: Vinícius, Plauto e Pedro Gonçalves Dutra Jr., enquanto Lúcia, casada com Luís Teixeira de Oliveira, teve os seguintes filhos: Laura, Luísa e Luís Antônio.

Segundo a filha do historiador, a nova geração dos descendentes do Cel. Pedroca está constituída assim: "Alice e Raquel, filhos de Maria Angélica; Henrique e Bernardo, filhos de Miguel; Luíza, filha de Maria Alice; Rafael, filho de Vinícius; Gabriel e Mateus, filhos de Pedro Gonçalves; Gabriel e Caio, filhos de Luís Antônio".

Maria Apparecida Viestel diz que "considero que o legado de meu pai foi o de dignidade e o de servir ao próximo. Para ele, o importante era o enriquecimento com a cultura e com a vida", finaliza.

Pode-se dizer que o historiador promoveu este importante legado a partir do que hauriu na Farmácia Normal. A propósito, ele assinalou no texto do mencionado livro editado por Delton de Mattos, que a residência do Cel. Pedroca, "foi meu segundo lar... Foi ali, naquele ambiente em que sempre imperaram a honestidade, a modéstia, a bondade e a cultura, que eu aprendi a viver; hoje, já perto da velhice, rendo graças a Deus por ter aproveitado bastante daquela aprendizagem". (pág. 92).

Foi Antônio Dutra que preservou, também, entre outras relíquias, os exemplares do primeiro jornal de Bom Jesus, editado por Sylvio Fontoura em 1906, intitulado "Itabapoana", e patrocinado pelo Cel. Pedroca, seu sogro. 

Os exemplares do 1º jornal de Bom Jesus foram guardados por Antônio de Souza Dutra. Após sua morte, as relíquias foram doadas a Luciano Bastos que, por sua vez, editou um livro com o conteúdo das edições de 1906 e 1907


Essas e outras preciosidades foram doadas pelos familiares do historiador, após sua a morte, a Luciano Augusto Bastos, por considerá-lo a pessoa adequada a zelar por este rico acervo. Luciano Bastos, por sua vez, compilou o conteúdo do referido jornal em dois livros que constam da Coleção Histórias de Bom Jesus, da Editora O Norte Fluminense. As demais relíquias de Antônio Dutra doadas a Luciano Bastos, integram o rico acervo do ECLB (Espaço Cultural Luciano Bastos).





O Colégio Rio Branco prestou homenagem a Antônio de Souza Dutra no dia 22/09/1980, que permanece na Biblioteca do ECLB











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