sexta-feira, 24 de junho de 2016

HOMENAGEM AOS DISCÍPULOS DE DEUS



Celso Loureiro Pereira

(escrita quando eu estava no Rio de Janeiro)


Vivi, faz muito tempo, numa manhã de sábado, num confessionário da capela do hospital São Vicente de Paulo, uma lição que me foi dada pelo Pe. Mello, na véspera do meu casamento. No dia 24/01/2016 completei 70 anos de casado.

Contou-me o Pe. Mello que um rei de país árabe, solteirão e que pretendia casar, escolheu cinco princesas de vários reinados e deu a cada uma um vaso com adubo e sementes, dizendo que casaria com a que trouxesse num determinado tempo a rosa mais bonita.

Decorrido o prazo, as princesas apresentaram rosas muito bonitas e apenas uma apresentou o vaso vazio, alegando que tinha cuidado com todo carinho, aguando e adubando o vaso, mas que as sementes não germinaram.

O Rei, então, falou que ia casar com ela pois as sementes que lhe tinha dado eram estéreis.

O Pe. Mello concluiu a estória com as seguintes palavras: "Você, Celso, escolheu uma moça prendada e que o fará eternamente muito feliz".



Morrer sonhando


Cedo, bem cedo, perderei a vida,
Planta ferida no mimoso pé.
Teu desengano perecer me ordena,
Na idade plena de esperança e fé.

Porém a morte me é suave e doce,
Como se fosse uma ilusão de amor;
Embora eu sinta que uma luz se apaga
 Outra me afaga de eterna! fulgor.

Morrer sonhando! Como é doce a morte!
Que vale a sorte que esta vida tem?!
A vida é sempre uma fugaz mentira,
A morte aspira a realidade além.

Morre este corpo de servil matéria,
Baixa à miséria de funéreo pó,
Porém minha alma sempre viva sonha
Vida risonha, não mereço dó.

Beijo-te a mão que me assassina e creio
Que ela me veio libertar ao fim.
Morrer sonhando é despertar na glória;
Eis a vitória. Morrerei assim.

Pe. Antônio Francisco de Mello




Refletindo sobre a pessoa do Pe. Mello, fiquei a me perguntar se estávamos cumprindo o nosso dever para com os nossos sacerdotes. Acho que muitas vezes exigimos muito do padre. Esquecemos que ele é humano como nós, com seus problemas, decepções, angústias, tristezas, mágoas. Esquecemos que deve sofrer muito com decepções, as grosserias, injustiças e incompreensões.

É bem verdade que o padre consagrou-se ao serviço de Deus. Isso é de um valor incomensurável, mas não deixou de ser homem e, como tal, precisa ser olhado como alguém que precisa muito de nós. Da nossa amizade, do nosso apreço, da nossa solidariedade.

E como diz o poema de Michel Quoist, "Esta tarde, Senhor, estou sozinho. Na igreja, pouco a pouco, os ruídos se calaram. Foi-se embora toda a gente e eu voltei para casa, passo a passo, sozinho".

É bom lembrar que o padre precisa de nós. Pode ser apenas uma palavra, um gesto de atenção.

Coloquemos entre os nossos deveres de cristão esse de amizade para com os padres. Amizade implica solidariedade, consideração e estima.

É duro ser padre pois ele se entregou com toda generosidade de sua juventude ao serviço da religião e como tal merece nossa admiração e compreensão.

O padre precisa que os cristãos lhe demonstrem que ele não deu a vida em vão e que necessita, vez por outra, de um gesto delicado de amizade numa tarde em que ele está sozinho.


 Rio de Janeiro, Junho 2016

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