sábado, 13 de agosto de 2016

PADRE MELLO, por Octacílio de Aquino, fevereiro de 1925





 Octacílio de Aquino
 
      Sempre notei um traço de grande superioridade em todas as pessoas que me encorajaram, material ou moralmente, nas lutas acadêmicas. Por isto meu pai revelou-se-me, desde muito cedo, uma inteligência viva, um caráter inflexível, um ânimo de fé inquebrantável e, sobretudo, a consciência mais completa que ainda conheci.

Desde cedo também tive esses mesmos pensamentos e sentimentos em relação à minha avó materna Maria Luiza de Saltes Machado, o coração mais capaz de afetos que se possa imaginar, a de quem é lícito dizer o que já se disse de uma famosa mulher - é um homem de bem!

Toda a gente que me conhece sabe o que representa para a minha vida a fase do meu mundo intelectual que vai do b-a-ba à colação de grau em Direito. Foram anos de trabalhos formidáveis, meus e dos meus, trabalhos sem hesitações que me deram no seio augusto do meu povo contemporâneo, a glória invejável de precursor nos estudos em nossa cidade.

 Enquanto outros, beijados pela fortuna, fugiam ao maior ideal que a mocidade pode sonhar, depois do amor, eu, adiando no coração a pujança do meu primeiro afeto, estudava com um fervor que só as dificuldades podem operar, cercadas das competições daqueles que julgaria mais felizes do que eu, se não considerasse, antes, a felicidade como uma simples questão de ponto de vista.

Os confortos que tive nas asperezas relativas dos estudos ruiu me fugiam jamais do pensamento saudoso. Com o material dessas doces lembranças edifiquei o meu castelo, como o templo de Salomão. Muitos, muitíssimos nomes entram nesta lista querida. É longo o número, graças a Deus. E é dentre esses tantos que hoje destaco o desse amigo tão nobre que é o Padre Mello.

Considero a influência por ele exercida na minha formação (compleição ética), a assistência constante, ocasional ou voluntária, nas voltas da minha vida.

 Foram suas mãos que me estenderam a primeira benção da Igreja, nas primícias batismais. Depois, prosseguindo eu nos estudos, tivemos os melhores contatos de inteligência. Já eu fazia versos (este meu defeito é antigo!), e o bom Padre, desprezando as inúmeras imperfeições daquela poesia adolescente, elogiava meus versos, criando-lhes imaginariamente relevos de beleza. E, ao que me diziam muitas vezes, em palestras, ele me apontava como esperança da terra.

E quando o estudante regressava, depois de formado, ao seio natal, o discurso que, principalmente, o comoveu, foi o pronunciado pelo ilustre sacerdote. Em 1915 completava eu 15 anos. O jornal "Itabapoana" dirigido por Menezes Wanderley, publicava longa notícia referta de elogios e ótimos votos, em seguida ao meu retrato. Recebi então do Padre Mello a seguinte carta, que ainda conservo iluminando o meu arquivo:

"Não podendo achar-me amanhã nesta localidade, antecipo os meus cumprimentos de felicidade pelo seu aniversário natalício, associando-me assim às manifestações de apreço que certamente receberá de muitos que lhe conhecem a precocidade no desenvolver das poderosas faculdades intelectuais que possui, por esta força, faço minhas as merecidas referências que traz o último número do "Itabapoana".

 Na dupla qualidade de sacerdote que lhe conferi há quase quinze anos a graça do batismo pela qual entrou no grêmio da nossa cristandade, e na de mais ou menos lidador no campo das letras, em que ainda por assim dizer na infância deu ingresso o jovem aniversariante, não tenho sido indiferente ao progresso rapidamente efetuado em seus estudos, antes me alegrei sempre, como ora testemunho, com os largos passos que levam o jovem poeta à glória, e me julgarei feliz se Deus me der ainda muitos anos de vida para com os meus olhos contemplar o seu belo porvir, trilhando sempre o caminho da verdade, da honra e do bem.

São estes os votos que formulo rapidamente ao partir para uma excursão de meu ministério paroquial. Do seu amigo e admirador Padre Antônio Francisco de Mello. Aos 6 de dezembro de 1915".

Bom Padre! Como foram consoladoras aquelas palavras serenas de animação e de confiança! E aqueles tempos, como traziam esperanças, tantas e tão boas que ainda não me abandonaram no ideal humilde de vencer na vida honestamente.

 Bons votos aqueles de 1915! Se foram realizados... Serei eu quem possa afirmar?

Poeta, de algumas vezes penetrei na Glória, voltei rapidamente como ao entrar: de bonde ou a pé, para o alvoroço da avenida... Homem, afirmo que o meu caminho tem sido o da "verdade, da honra e do bem.

Mas tem direito à palavra aqueles que são meus amigos; todos quantos tiveram comigo alguma divergência e, principalmente, os que necessitam dos meus serviços, procurando-me como homem de negócio.

Fevereiro de 1925



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