sábado, 3 de setembro de 2016

PORTO DE LIMEIRA: A ÚLTIMA BATALHA DA GUERRA



Muro do antigo cais, próximo ao Rio Itabapoana, serviu de suporte para o prédio onde funcionou a antiga farmácia do Porto de Limeira, no século XIX
(foto: Gino Martins Borges Bastos)


Uma luta silenciosa se trava, neste momento, na última batalha da guerra envolvendo as ruínas do antigo Porto de Limeira: a peleja contra o desaparecimento total dos vestígios que ainda restam do mesmo, às margens do Rio Itabapoana, entre Campos dos Goytacazes (RJ) e Mimoso do Sul (ES).

Descoberto por ocasião das escavações  para a construção da Hidrelétrica da Pedra do Garrafão, há cerca de 11 anos, o local foi rigorosamente abandonado, desde então, pelos pesquisadores e autoridades, fazendo com que as ruínas existentes do Porto de Limeira possam ter, em breve, o seu desaparecimento total.

O Porto de Limeira teve grande importância para a região, no século XIX, incluindo para o nosso município de Bom Jesus do Itabapoana.


Óleo de baleia usado na construção do Solar dos Tardin veio do Porto de Limeira

Segundo o escritor bonjesuense Delton de Mattos, em artigo intitulado "O Solar dos Tardin", este prédio, que ainda hoje está de pé, na Serra do Tardin, foi construído com óleo de baleia transportado a partir do Porto de Limeira.

Por outro lado, outra escritora bonjesuense, Vera Maria Viana Borges, destacou em seu artigo "O primeiro piano de Bom Jesus do Itabapoana", que este instrumento chegou a nosso município através do Porto de Limeira. 


Caminho por onde foi transportado o primeiro piano do Vale do Itabapoana

Afirmou ela:
"Meus bisavós, Feliciano de Sá Viana e Ambrosina Justa de Sá Viana não esmoreceram, jamais perderam o
entusiasmo. Chegaram à Fazenda da Prata, oriundos das Minas Gerais em 1862. Casal cheio de vitalidade, ânimo e alegria,
pôs mãos-à-obra, dedicando-se à agricultura, atravessando épocas de vacas gordas pelo desempenho auspicioso do trabalho e
dedicação a que se empenharam.
Via crescer a numerosa prole em meio a muita fartura proveniente de seu trabalho na terra, acalentando o sonho de
educar todos os filhos proporcionando-lhes cultura e principalmente almejava que aprendessem música para encher de alegria o seu lar e aquele rincão distante...
Sonhava comprar um piano, mas para tal aquisição era necessário ir à Corte. Preparando-se e indo até lá adquiriu o
instrumento, um piano de cauda; tratou de despachá-lo até o Porto de Limeira, que já funcionava desde 1864, a uns mais ou
menos dez quilômetros da atual localidade de Ponte do Itabapoana, no rio Itabapoana, ligando este ao mar em Barra do
Itabapoana. De lá veio até Bom Jesus de carro-de-boi e para dar continuidade à viagem, não havendo estradas, escravos
tiveram de empunhá-lo e levá-lo até Arrozal de Sant'Ana, mais precisamente na Fazenda da Prata, onde residiam os Sá Viana.
Os filhos cheios de curiosidade rodearam o instrumento, uma grandiosíssima novidade na região. Feliciano por sua
vez anunciava a necessidade de um mestre, corria de boca em boca a notícia... Sentia-se feliz mas ao mesmo tempo triste
vendo o piano ali, mudo... Homem de expediente já providenciava alguém para ministrar aulas e contratado já estava um
Professor de Escolaridade que viria ensinar leitura, contas e conhecimentos gerais a todos.
Entre seus criados, havia um escravo vindo de Diamantina, que cochichara aos outros, saber tocar piano. Chegando a
alvissareira notícia aos ouvidos do patrão, este dando-lhe roupas limpas e decentes, pediu que tomasse um banho e se
aprontasse devidamente. Quando adentrou o salão da Casa Grande, estava irreconhecível, de paletó e gravata. Emoção
enorme aos primeiros acordes que quebraram o silêncio daquelas matas, daqueles cafezais, esfuziando aqueles olhares
expectadores, encantando aqueles ouvidos ávidos de uma boa e bem animada melodia. O contentamento foi geral.
Passaram os Sá Viana a organizar saraus, atraindo pessoas da vizinhança e alegrando sobremaneira toda a família que
se organizava para receber os que vinham dançar e apreciar as bem executadas valsas da época. Nestas reuniões semanais,
serviam fartíssima mesa das mais finas e variadas iguarias, onde todos comiam a vontade.
Com a chegada do Professor “João Lino”, o início dos estudos e a surpresa maior: ao ver o “piano” disse que ele
poderia também dar conhecimentos de música e ensinar os mais diversos instrumentos. Iniciou-se assim a realização do sonho
do fazendeiro. Os filhos, Romualdo, Eulália, Aureliano, Adélia (Sinhazinha), Elpídio, Henrique, Malvina, Adolfina, Mulata,
Adelaide, Diana, Abílio e Julinho se entusiasmaram e logo formaram conjunto com clarinetas, trombones, contrabaixos, Sax
Horn, requinta e piano. Sobressaíram, Romualdo na clarineta, Julinho no cantrabaixo (ainda jovem faleceu na arquibancada
de um circo onde tocava, atingido por uma bala perdida, disparada numa briga do lado de fora), Elpídio no trombone (a maior parte de sua vida foi dedicada ao contrabaixo), Henrique no Sax Horn, Adelaide no piano e requinta; Mulata dedicou-se um

pouco ao piano e gostava de cantar."

Maria Cristina Borges, pesquisadora bonjesuense, destacou, por sua vez, a importância da rota Porto de Limeira a Barra do Pirapetinga, localizada na zona rural de nosso município.

Nas próximas edições, O Norte Fluminense revelará o resultado da pesquisa e estudos ocorridos há cerca de dois anos.

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