sexta-feira, 12 de maio de 2017

HOJE É DIA DE NORBERTO SERÓDIO BOECHAT





 Norberto Seródio Boechat: um dos grandes escritores do país

  Hoje, faz anos Norberto Seródio Boechat, um dos grandes escritores do país. Nascido em sua querida Pirapetinga de Bom Jesus, distrito de Bom Jesus do Itabapoana, integra o PEN (Poesia, Ensaio ou Narrativa) Clube, uma associação mundial de escritores, fundado em Londres, em 1923,  e que congrega cultores da palavra escrita e falada em 150 centros no mundo.  Sua posse como membro efetivo ocorreu no dia 27 de novembro de 2016.


         No Brasil, a entidade surgiu no dia 2 de abril de 1936 e, atualmente, conta, entre seus membros, Nélida Piñon e Carlos Heitor Cony, ambos  da Academia Brasileira de Letras.


  Um dos livros mais festejados de Norberto é "Lembranças de Escritas".





            A respeito desta obra, Dalma Nascimento, doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada (UFRJ), salienta que " o médico-escritor Norberto Serôdio Boechat foi recolhendo rios de memórias ficcionalizadas nas páginas descritas destas Lembranças de escritas, onde pulsa a vida, mas também lateja o coração."

        Olívia Barradas, doutora e professora de Literatura Comparada, Semiótica e Teoria Literária, ex-professora de Literatura Brasileira da Universidade de Paris IIIsalientou, por sua vez:     " Parafraseando o médico baiano Clementino Fraga ao afirmar que 'Medicina é Ciência e também Arte', Norberto Seródio Boechat alia a ciência médica à linguagem artística, despertando com estas Lembranças de escritas a emoção no leitor".

            Eliana Bueno Ribeiro, doutora em Ciência da Literatura, pela UFRJ, com pós-doutorado em Literatura Comparada pela Universidade de Paris III, e editora da revista Passages de Paris, salientou, sobre a obra: "Mais feliz, este menino-interiorano-médico-da-cidade chega ao dia da narração. Mais que histórias estruturadas temos aqui cenários e personagens como ínidices de momentos, índices de um tempo e da passagem do tempo. Farpas de madeira que seguem a correnteza e servem como roteiros para que cada leitor viaje até sua própria infância e reencontre os coadjuvanets de sua história particular".




          O editor Muro Carreiro Nolasco ressaltou, por sua vez: " As situações aqui registradas nos emocionam, e trocamos de lugar com o pensador ao tentar entender o correr do tempo e as mutações. O autor e os personagens a desfilar histórias... O livro leva a pensar, comove e encanta".

        Além de ser considerado uma obra-prima, a capa da obra reproduz aquarela criada pela premiada artista plástica paulista Veronica Debellian Accetta. 






          Norberto Seródio mantém, ainda, com o apoio de sua irmã, Maria Lúcia Seródio Boechat, o precioso Museu da Imagem, localizado em Pirapetinga de Bom Jesus. 


 Museu da Imagem tem como diretora  Maria Lúcia Seródio Boechat



Peças raras da época escravocrata compõem o acervo da entidade


Roda d'água em ambiente paradisíaco em Pirapetinga de Bom Jesus


Segue texto do livro "Lembranças de Escritas".


A ETERNA AUSENTE

           

     Década de 50.
     Oito anos.     
     Estrada Bom Jesus - Vargem Alegre.
     Ao voltarmos da cidade, lá estava a menina na cerca de sua casa, à espera. Diminuíamos a velocidade para vê-la, infalível, pendurada no cercado do quintal. Segurava-se com a mão direita e acenava a esquerda.
  Loura e branquinha. Muito bonita. Impossível saber de onde vieram as marcas arianas na garota pobre do barraco beirando a estrada. Não entendo, também, por que em nenhum momento paramos, por que não correspondemos num gesto o amor transmitido ao acenar. Creio que em seu reduzido universo, a busca do momento a impregnava, tornando-a parte de outras vidas, outras pessoas, do mundo que, então, se desfilava na via solitária. Ansiava, talvez, por um afeto, um toque junto ao coração.
   É provável fosse filha única. Nunca vimos outra criança ao redor. O que teria sido sua vida entre adultos? Que mundo encerraria o interior da cabana? Como os pais estariam contribuindo para o crescimento do ser que fazia daquele instante breve de nossa passagem a eleição de um acontecimento? Ao respondermos com as mãos, ela sorria feliz. Passávamos e, ao olharmos para trás, ainda a víamos acenando no meio da poeira deixada pelo jipe.
  Hoje, passada tanta vida — e tão rapidamente —, pergunto--me, onde estará? Casou-se? Teve filhos? Foi feliz? Tem um quintal cheio de netos? Morreu? Indagações que no vácuo desse tempo consumido apertam a garganta, deixam aberta a inútil expectativa de um vir a saber que não acontecerá... É a resposta que se espera, mas que jamais virá...
    Há muito a casa não existe mais. A estrada, asfaltada e, por isso mesmo, inexpressiva de lembranças, é uma reta que matou velhas curvas do caminho. A menina foi-se tal qual o pó, tal qual aquela nuvem de poeira que termina por sobrepor-se às cercas, cobrindo-as de amarelão pálido, triste, aguardando que a chuva venha e lave tudo.
    Não tenho dúvida: a garotinha foi a primeira mulher de minha vida. Tão absoluta que decididamente inesquecível. Definitiva. Jamais a tive. Nunca paramos para que eu me permitisse o contato de gente. 

   Assim, porque não a tive, sempre será indelével imagem, a eterna ausente: mão movendo-se avidamente como a dizer, por que não parou? Passou e não ficou para pacificar-me a vida. 

(páginas 17/18)



O Norte Fluminense deseja a Norberto Seródio Boechat muitos anos de vida!










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